segunda-feira, novembro 20, 2006

Bichos da cidade. Primavera

Um enxame de tanajuras, formigas grandes com asas, assustou banhistas na praia da Barra, sobretudo no trecho entre o Pepê e o Quebra-Mar, nas tardes de ontem e anteontem. Algumas pessoas não conheciam o inseto e se afastaram, confundindo-o com vespas. A formiga também foi vista no Cosme Velho, em Pendotiba, Região Oceânica de Niterói e, segundo o professor titular de entomologia da UFRRJ, Eurípedes Barsanulfo Menezes, ela aparece do sul do Texas, nos Estados Unidos, até o norte da Argentina. A tanajura é a forma reprodutiva da saúva. A revoada ocorre uma vez por ano, sempre em muitos sauveiros ao mesmo tempo.

— Os machos morrem após o acasalamento e apenas 0.05% das tanajuras sobrevivem, atacadas por predadores naturais e até mesmo o homem — disse o professor.

Muitas pessoas gostam de comer as tanajuras, inclusive o professor especialista. Na praia da Barra, o paulista Julian Gonzales disse que o bicho é um delicioso tira-gosto, quando seu abdômen é frito.

— É salgadinho, tem um gosto único — garante Julian.

Já o publicitário carioca Vinícius Bastos não conseguia disfarçar sua reprovação ao se imaginar diante de um farto prato de tanajuras fritinhas:

— Nunca comeria esse bicho, tá maluco! Gosto de filé de frango, massa e salada.


A agrônoma Maria Lúcia França Teixeira, que trabalha com insetos no Jardim Botânico, explica que a tanajura não faz mal algum.

— Mas se o enxame for muito grande pode ter sido provocado por algum desequilíbrio.

Na Barra, no entanto, o professor Eurípedes prevê o crescimento da população de saúvas:
— Vai aparecer muito formigueiro em condomínios chiques. A formiga, cortadora de folhas, não respeita o quintal do vizinho — disse o professor, explicando que as folhas não são comidas, mas usadas para manter fungos nos formigueiros, esses sim, o alimento delas.

O historiador Milton Teixeira lembra que a saúva chama a atenção há muito tempo. Em 1587, Gabriel Soares de Souza, no livro “Tratado Descritivo do Brasil”, afirmou: “Ou Brasil acaba com a saúva ou a saúva com o Brasil”.

— Era preciso combater a formiga para viabilizar o plantio da cana-de-açúcar. Além da saúva, apareceu na cidade, nos anos 80, um percevejo que logo ganhou o apelido de Idiamim-dadá, por causa de Idi Amim Dada, ditador de Uganda. Nos anos 60 foi a vez da lacerdinha, que queimava os olhos das pessoas, na época do governo Lacerda — disse.

O professor Eurípedes explica que tanto lacerdinha como Idiamim-dadá continuam existindo, mas com as suas populações controladas. O primeiro inseto, GynaiIwthrips fiicorum É uma praga do fícus, causando deformação e enrolamento pela injeção de toxinas. Quando em contato com a pele e, principalmente, quando atingem os olhos, causam forte irritação. Já o Idiamim-dadá, o besouro lagria villosa, veio de Uganda. É uma praga de feijão que morre fácil com ataque de fungos.

— O lacerdinha quando cai no olho da pessoa queima, é um bicho muito chato — disse Eurípedes.

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