A Acadêmicos da Rocinha, que ano passado fazia parte do Grupo Especial, foi a primeira escola a desfilar pelo Grupo de Acesso A na noite de anteontem no Sambódromo. Considerada uma das favoritas ao título, a Rocinha teve dificuldades em desenvolver o seu enredo "Gigante no mundo dos pequenos". Apenas 38 baianas conseguiram chegar à tempo na Marques de Sapucaí e, por isto, a agremiação deverá perder meio ponto na apuração, já que o mínimo exigido para esta ala é de 60 componentes. Integrantes da escola disseram que o trânsito fechado por causa do carnaval foi um dos motivos pelos inúmeros atrasos. A uma hora para o início do desfile ainda faltavam chegar muitos componentes na concentração. O primeiro carro alegórico passou com algumas luzes apagadas e o quarto teve problemas para entrar na avenida. A escola ainda enfrentou problemas na dispersão e teve que acelerar seu andamento no final do desfile para cruzar a avenida dentro do limite do tempo do regulamento.
- Não sei o que aconteceu. Nós estávamos com 20 baianas a mais do que o necessário - disse o presidente da escola, Maurício Mattos.
Rainha da bateria da Rocinha no ano passado, Adriane Galisteu desfilou como madrinha da ala infantil. Carismática, ela atraiu a atenção do público durante todo o percurso e, na dispersão, foi carinhosamente cercada pelas crianças.
- Tenho uma relação muito forte com a Rocinha, sou muito amiga do Maurício Mattos, não poderia deixar de desfilar. Espero que a escola esteja no grupo especial no ano que vem e, como sou rainha da bateria da Unidos da Tijuca, desfilarei como integrante da diretoria. Foi muito especial estar à frente das crianças. Quase não sambei para dar atenção a elas.
Fábia Borges, que estreou à frente da bateria da Rocinha, evitou comparações com Galisteu:
- Não vim substituir ninguém, apenas ocupo o meu lugar.
No início do desfile, um casal sobre pernas-de-pau evoluía como mestre-sala e porta-bandeira com uma bandeira dos Jogos Pan-Americanos de 2007 ganhou aplausos do público, que cantou o samba da escola. O enredo mostrou a história de garotos prodígios. A última alegoria representava o menino Jesus.
Depois do luxo da Acadêmicos da Rocinha, foi a vez da escola Arranco, do Engenho de Dentro, trazer seu carnaval de poucos recursos. O orçamento para este ano era de R$ 360 mil, segundo o presidente da escola, Marcos Antonio Mota da Veiga. A apresentação do enredo "A sinfonia brasileira das quatros estações" foi marcada pela criatividade e por soluções como a cola caseira, feita com farinha de trigo e água. O carnaval de baixo custo, sem prejuízo na alegria, foi mencionado já no esquenta, quando a música de Tim Maia "Não quero dinheiro" foi cantada. Nem tudo na escola, no entanto, era artesanal. Os diretores de harmonia dispunham de dois mastros, com uma luz vermelha e outra verde, que orientavam o andamento dos componentes.
A terceira escola a desfilar foi a União da Ilha, com o enredo "Ripa na Tulipa, Ilha!", apresentado com grandes alegorias e cores fortes. A escola também é apontada como uma das candidatas ao título, assim como a Rocinha, e foi obrigada a desfilar com apenas dois terços da comissão de frente, que representava a alquimia da cerveja, já que as fantasias de cinco integrantes não chegaram a tempo. Responsável pela coreografia, Lalá Souza, com muito emoção, contou que as fantasias que não chegaram eram as maiores da comissão de frente e tinham grande importância cênica. O diretor de carnaval João Estevão, no entanto, acredita que a escola não perderá pontos no quesito já que o número mínimo de integrantes foi cumprido.
- Os artistas que desfilaram se superaram e conseguiram comunicar com clareza o significado da comissão de frente - disse Estevão.
A escola também teve problemas de harmonia. Logo depois da segunda cabine de apuração, um enorme buraco se formou entre as alas, podendo prejudicar a pontuação da escola. A primeira porta-bandeira, Priscila Rosa, reclamou de sua fantasia e teve que ser ajudada diversas vezes durante seu desfile. A bandeira também não encaixava na fantasia.
- A fantasia estava inacabada. Tive que fazer consertos na roupa a poucas horas do desfile. Foi um desrespeito ao meu trabalho. A escola não pôde pagar a fantasia e teve que contar com doação. Isto poderá prejudicar nossa minha pontuação, apesar de ensaiarmos tanto e sermos profissionais. Recebi uma proposta para ir par ao Salgueiro para ganhar mais e preferi continuar na Ilha.
Apesar dos problemas do desfile, a União da Ilha agradou e empolgou a platéia, sobretudo as arquibancadas próximas `a dispersão, que cantaram com a escola e entoaram "é campeã" no final do desfile.
Em seguida, foi a vez da Renascer de Jacarepaguá desfilar pela Sapucaí. A comissão de frente tinha a fantasia de jacarés, uma referência ao nome do bairro. Os componentes rastejavam por baixo do carro abre-alas, numa coreografia de Alice Arja. Quatro bailarinos, no entanto, não resistiram ao forte calor e precisaram de atendimento dos bombeiros.
- Fui perdendo os integrantes da comissão de frente durante o desfile e estava muito preocupada com o estado de saúde deles. Apesar desse problema, a idéia funcionou bem na avenida e pude perceber uma reação muito boa do público.
Segundo a Secretaria municipal de Saúde, os bailarinos tiveram hipertermia e sentiram falta de ar, entre eles, Alexandre de Oliveira, de 16 anos.
- Não sei o que aconteceu. Fizemos vários ensaios na quadra, com a fantasia e o carro-alegórico em movimento - contou Alexandre.
A bateria foi outro destaque da escola, cujo enredo foi "Jacarepaguá – Fábrica de Sonhos". A fantasia fazia uma referência ao artista Arthur Bispo do Rosário e alegorias lembravam celas da Colônia Juliano Moreira.
A escola atraiu famosos, como o promoter David Brasil e marcou a estréia na avenida do ator Rafael Almeida que interpreta o personagem Luciano em "Páginas da Vida" e de Raquel Nunes, rainha da bateria, que quase não desfilou por causa do atraso do carro que a buscou.
- Nunca tinha pisado no Sambódromo e estou adorando esta experiência - disse Rafael.
A São Clemente desenvolveu seu carnaval em torno das minorias, com o enredo "Barrados no Baile" dos carnavalescos Edward e Fábio Santos. Eles optaram em trazer muitas alas maquiadas e a escola de Botafogo cometeu poucos erros. O primeiro casal de mestre-sala e porta-bandeira, Marcelo e Daniele, teve a segurança de ser apresentado por Selminha Sorriso, porta-bandeira da Beija-Flor, evoluiu bem.
A escola de Botafogo manteve sua tradicional irreverência ao levar para a avenida um carro alegórico inspirado no filme "Priscilla, a rainha do deserto". O jogador Roger, do Corinthians, desfilou no chão, junto com o carro de som. O ex-BBB Iran foi um dos destaques e disse que um dos autores do samba é seu amigo de infância.
- A São Clemente tem que voltar para o lugar que é dela, o grupo especial. Esta é uma escola de trabalho, onde a diretoria afina os instrumentos e cola as fantasias - disse Iran.
No final do desfile, o presidente, Renato Almeida Gomes elogiou a garra dos componentes, mas descartou favoritismo.
O prefeito Cesar Maia esteve na Sapucaí, desceu à pista para cumprimentar os foliões e durante o desfile da União da Ilha, cantou o samba com os puxadores da escola. Cauê, o mascote do Pan, também marcou presença na avenida e sambou com Renato Lourenço, o gari Sorriso.
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